Autores: Ottavio Raul Domenico Riberti Carmignano; Éder de Souza Martins
A mineração é uma atividade que remonta aos primórdios da humanidade, marcada pela busca de ferramentas a partir de rochas, origem da expressão “Idade das Pedras”. Esta era terminou com a descoberta da fundição de minérios, permitindo a produção de ferramentas mais eficientes e adequadas às necessidades humanas. Assim, surgiu a Idade do Bronze, seguida pela Idade do Ferro. Desde então, a mineração tem sido fundamental para a evolução humana, fornecendo as matérias-primas de uso direto e, posteriormente, transformadas pelas indústrias em produtos prontos para o consumo. Desta forma, a mineração envolve a extração de minerais e recursos naturais da terra, sendo essencial para o desenvolvimento industrial e econômico. No entanto, essa atividade tem sido historicamente associada a impactos ambientais negativos, como a degradação de ecossistemas, poluição de águas e solos, e a emissão de gases de efeito estufa. Esses impactos reforçam a necessidade de práticas de mineração mais sustentáveis e integradas ao manejo ambiental.
Assim como a mineração, a agricultura é uma atividade milenar, voltada para o cultivo da terra e a produção de alimentos. Essas duas atividades caminharam lado a lado, complementando-se e auxiliando na sobrevivência das civilizações. Com a evolução do conhecimento humano, a mineração passou a fornecer matérias-primas essenciais para a fertilidade dos solos, aumentando a capacidade produtiva dos sistemas agrícolas. Os fertilizantes, especialmente os minerais obtidos da mineração e processados pelas indústrias, são cruciais para a nutrição vegetal.
Em 1893, Julius Hensel escreveu o livro “Pães de Pedra”, onde defendeu a aplicação de pedras moídas no solo como fontes de nutrientes para as plantas. Hensel afirmou: “A verdadeira cura para um solo desgastado consiste em administrar-lhe pedras trituradas. Dessa maneira, as plantas recebem novamente o que elas por natureza necessitam. Prova disso pode-se observar na milenar fertilidade das terras do Egito; o lodo do Nilo as nutre quase que exclusivamente de rochas finamente trituradas, junto com ingredientes orgânicos.” Esse conceito pode ter dado origem aos termos fertilizantes organominerais e agricultura regenerativa.
Posteriormente, surgiu o termo rochagem, designado por Leonardos et al. (1976), que se refere à aplicação de rochas moídas ao solo para fornecer elementos químicos essenciais, absorvidos pelas plantas. Também conhecida como petrofertilização, essa técnica representa uma abordagem natural e sustentável para a fertilização do solo.
A integração da mineração com a rochagem representa uma abordagem inovadora para a sustentabilidade. Minérios que antes eram considerados subprodutos ou resíduos da mineração podem ser reaproveitados como insumos agrícolas. Isso não apenas reduz os passivos ambientais da mineração, mas também contribui para a economia circular e a redução da dependência de fertilizantes químicos. Além disso, a utilização de pós de rochas, como os calcários agrícolas, fosfatos naturais, sulfatos naturais, remineralizadores de solos e fertilizantes silicáticos podem melhorar a estrutura do solo, aumentar a retenção de água e diminuir a erosão, fortalecendo a resiliência agrícola frente às mudanças climáticas.
Em síntese, a mineração, tradicionalmente vista como uma atividade extrativa com impactos ambientais significativos, pode ser reavaliada e integrada a práticas sustentáveis quando vinculada à rochagem e à agricultura. A rochagem, e de forma específica a remineralização do solo, oferece uma alternativa promissora para a agricultura sustentável, contribuindo para a regeneração dos solos e a promoção de práticas agrícolas mais resilientes.
Ottavio Raul Domenico Riberti Carmignano: Graduação em Direito – Faculdades Milton Campos (1996), mestrado em Sustentabilidade Sócio-econômica Ambiental pela Universidade Federal de Ouro Preto (2015), doutorado em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2021) e pós Doutorado em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2024). É sócio-gerente na Pedras Congonhas Ltda. Tem experiência na área de Engenharia de Minas, com ênfase em Pesquisa e Economia Mineral. Atua em pesquisas para desenvolvimento de novas aplicações para rochas em mercados industriais. Participa de grupos de pesquisa com foco em inovação de produtos e processos. É diretor vice-presidente da ABREFEN.
Éder de Souza Martins: Possui graduação (1987), mestrado (1991) e doutorado (1999) em Geologia pela Universidade de Brasília (1987). Pesquisador A da Embrapa Cerrados desde 1997, professor e orientador de pós-graduação em Geografia e Ciências Ambientais na UnB, e de Ciências Exatas e Tecnológicas da UFCAT. Trabalha nos campos de pesquisa sobre Fisiologia da Paisagem, Agrominerais Regionais e Zoneamento Agrogeológico. Publicou mais de 180 artigos completos em periódicos científicos, organizou quatro livros e participou em 28 capítulos de livro. Participou na organização de eventos na área de solos e nas quatro edições do Congresso Brasileiro de Rochagem, em 1999, 2013,2016 e 2021. Coordenou cinco projetos sobre caracterização de agrominerais silicáticos, desde1999. Orientou 10 dissertações de mestrado e 6 teses de doutorado.
REFERÊNCIAS:
HENSEL, J. Pães de Pedra. Tradução Fundação Juquira Candiru, texto original Brot aus Steinem, burch mineralische Dungung der Felber , 1893, 60 p., visitado em 22/07/2024, < http://www.luquips.com.br/paes_de_pedra.pdf>
LEONARDOS, O. H.; FYFE, W.S.; KROMBERG, B. Rochagem: método de aumento de fertilidade de solos lixiviados e arenosos. Anais do XIX Congresso Brasileiro de Geologia. Belo Horizonte, p. 137-145. 1976.