O Brasil acaba de dar uma grande resposta para o combate às mudanças climáticas ao se tornar o primeiro país do mundo a ter uma certificação de créditos de carbono por meio do intemperismo aprimorado de rochas (ERW – do inglês Enhanced Rock Weathering), uma tecnologia inovadora baseada no uso de Remineralizadores de Solo (REM), que tem o potencial de remover grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera e armazená-lo por milhares de anos.
O projeto de aplicação e estudo foi desenvolvido pela InPlanet, empresa associada à ABREFEN, em 1000 hectares da fazenda São José, em Rio Claro/SP, utilizando REM. Nessa área é desenvolvido o cultivo de cana-de-açúcar e, em partes, o cultivo de soja no momento das reformas. Durante dois anos, foram coletados dados agronômicos e ambientais para avaliar o impacto dos REM na produtividade e na remoção de carbono. Com um rigoroso protocolo científico de análise e validação, os dados foram processados utilizando metodologias certificadas internacionalmente para quantificação de carbono removido da atmosfera.
Para os representantes da fazenda São José, o projeto foi inusitado e surpreendente. “Inicialmente, estávamos céticos quanto à eficácia dos REM, mas os resultados superaram nossas expectativas. A produção de cana-de-açúcar aumentou significativamente”, explica Luiz Antônio Murbach, responsável pelas operações de campo. A insegurança inicial foi vencida pelo resultado positivo que demonstrou melhorias significativas na qualidade do solo e na produtividade.
De acordo com os porta-vozes da fazenda, os resultados das análises indicaram que, além da retenção do carbono, o uso de REM trouxe vários benefícios, com ganhos de até 8 toneladas por hectare em algumas áreas. As análises de solo mostraram, também, que após um ano de aplicação, os níveis de cálcio e fósforo aumentaram e o pH do solo foi mantido estável, mesmo sem a aplicação de insumos adicionais. Em uma análise paralela, a soja plantada em áreas de reforma, após a aplicação do REM para o projeto inicial, apresentou ótimo desenvolvimento vegetativo. Embora não haja medição de dados oficiais, as primeiras avaliações indicam incrementos na saúde do solo e na nutrição das plantas.
Além da parceria com a fazenda São José, o projeto contou, também, com a colaboração de instituições científicas e organizações locais, que forneceram suporte técnico e logístico, e também conhecimento especializado sobre o mercado de crédito de carbono e as melhores práticas de aplicação de REM. Para o cofundador e diretor da InPlanet, Niklas Kluger, a parceria e apoio de universidades e profissionais tornaram o projeto viável e contribuíram para o resultado positivo. Um projeto de monitoramento de uma pequena área dentro do campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), financiado pela Grantham Foundation (EUA) através da Universidade de Newcastle (UK), resultado dos trabalhos conjuntos do professor Dr. David Manning (Newcastle) e do professor Dr. Antonio Azevedo (ESALQ), serviu de base para o projeto na Fazenda São José. “Construímos uma base científica sólida e uma rede internacional com profissionais de referência da área”, explica Kluger.
Os resultados positivos foram fruto de um esforço conjunto. O projeto enfrentou diversos desafios ao longo de sua execução, como a compreensão da complexidade do mercado brasileiro e a adequação das metodologias de quantificação e certificação, que exigiram aprendizado e adaptação por parte dos envolvidos. Para Kluger, “contar com um laboratório para as análises e ter instalações físicas adequadas para processar e receber grandes quantidades de amostras também foi essencial para o desenvolvimento das atividades.”
Ao longo do processo, a colaboração da Fazenda São José foi crucial, pois sua adaptação ao projeto envolveu etapas importantes, desde a familiarização com a aplicação do Remineralizador de Solo até os ajustes da sua infraestrutura para acomodar o armazenamento e manuseio do insumo. A equipe da fazenda também participou ativamente das discussões e colaborações com entidades de pesquisa, o que ajudou a incorporar novas metodologias e práticas agrícolas mais sustentáveis, como o uso dos REM. “Recomendo que outros agricultores comecem a usar os REM em pequenas áreas. Isso ajuda a ganhar confiança nesse tipo de produto e a observar os benefícios antes de expandir para áreas maiores. Apesar dos desafios iniciais, os resultados em termos de produtividade e qualidade do solo são muito positivos”, explica Luiz Murbach.
Créditos – Os créditos de carbono gerados pelo projeto foram verificados pela empresa Isometric, entregues à Adyen e facilitados pela ClimeFi, destacando o papel crucial do Brasil na inovação e implementação de soluções climáticas ao nível internacional.

Ao todo, foram certificados 235 créditos, equivalente a 235 toneladas de carbono removidos do meio ambiente. De acordo com a InPlanet, esses créditos já foram comercializados por meio de um contrato de compra com a ClimeFi (antiga CarbonX). Embora ainda esteja em fase de aprimoramento, a avaliação inicial do projeto pela InPlanet indica que a tecnologia ERW é economicamente viável e tem potencial para gerar renda para produtores rurais no Brasil. Atualmente, essa empresa está expandindo sua operação em nível nacional para viabilizar a certificação do intemperismo aprimorado de rochas em diferentes combinações de solo, planta, remineralizador e clima.
Sobre o ERW – O ERW é uma técnica inovadora que acelera um processo natural de remoção de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera por meio da aplicação de rochas silicáticas moídas ricas em bases sobre terras agrícolas. Quando as partículas de rocha do remineralizador entram em contato com a água e com o CO2, que estão presentes tanto no solo quanto na atmosfera, ocorre uma reação com os minerais das rochas, formando bicarbonato que é transportado pela água da chuva e da irrigação até os rios e, eventualmente, se deposita nos sedimentos oceânicos, onde permanece de forma estável por milhares de anos, removendo efetivamente o CO2 da atmosfera.
Além de contribuir para a remoção de carbono da atmosfera, o intemperismo aprimorado de rochas traz diversos benefícios para os agricultores, como a melhoria da saúde do solo, o aumento da produtividade agrícola, a redução da necessidade de fertilizantes químicos, o fortalecimento da agricultura regenerativa e a resiliência frente às mudanças climáticas. Tudo isso porque o REM repõe lentamente vários elementos essenciais, melhorando a fertilidade e promovendo um equilíbrio entre os componentes químicos, físicos e biológicos do solo, o que favorece a interação entre a matéria orgânica e as raízes das plantas.
O sucesso do projeto é um marco histórico, que reforça a liderança do Brasil no setor e abre caminho para a expansão dessa tecnologia e do uso dos REM em todo o território brasileiro. Esse avanço impulsiona a adoção de práticas sustentáveis na agricultura e fortalece o compromisso do país com a redução das emissões de gases de efeito estufa. A expectativa é que novas pesquisas e projetos explorem o potencial dos Remineralizadores de Solo em diferentes culturas e regiões do país, consolidando o Brasil como protagonista no uso desta tecnologia na agenda de combate às mudanças climáticas.
A ABREFEN vê a conquista da certificação dos primeiros créditos de carbono a partir do uso de REM como um passo definitivo para posicionar o setor mineral e o agronegócio brasileiro na vanguarda das soluções para a mitigação das mudanças climáticas. É um exemplo inspirador de como a ciência e os diversos setores podem se unir para enfrentar desafios globais e promover um futuro mais sustentável. Com o apoio do governo, empresas e sociedade civil, o país tem o potencial de se transformar em um modelo global de sustentabilidade e inovação climática e, ao mesmo tempo, incentivar a prática da agricultura regenerativa, capaz de elevar o agro brasileiro para um patamar ainda mais alto no mundo.
