Os remineralizadores como insumo para facilitar o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela ONU

Autor: Msc. Luanny Gabriele Cunha Ferreira¹

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram concebidos como um marco global para reorientar o desenvolvimento econômico e social dentro dos limites ambientais do planeta. No entanto, passados quase dez anos desde sua adoção, os avanços são, no mínimo, preocupantes. A ONU alerta que apenas 17% das metas estão no caminho certo, enquanto um terço delas apresenta estagnação ou retrocesso. No Brasil, o cenário é ainda mais crítico, com índices alarmantes de insegurança alimentar, degradação do solo e vulnerabilidade hídrica. A questão central permanece: como equilibrar produtividade agrícola e sustentabilidade em um cenário de recursos limitados e mudanças climáticas aceleradas?

Dentro desse contexto, a remineralização dos solos emerge como um mecanismo estratégico para impulsionar múltiplos ODS de forma integrada. Longe de ser apenas um suplemento nutritivo para solo, os remineralizadores atuam na interface entre geociências, biogeoquímica e agricultura sustentável, promovendo transformações que vão além da fertilidade agrícola. O intemperismo aprimorado desses materiais não apenas melhora a disponibilidade de nutrientes no solo, mas também contribui para ciclos biogeoquímicos globais essenciais à estabilidade dos ecossistemas.

A segurança alimentar (ODS 2) está diretamente ligada à saúde dos solos. Sem fertilidade adequada, a produtividade agrícola é comprometida, e a fome global se agrava. Os remineralizadores oferecem uma solução de longo prazo ao fornecer nutrientes essenciais de forma gradual, reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos e aumentando a resiliência dos sistemas produtivos. Além disso, promovem a atividade microbiana e a formação de agregados no solo, criando um ambiente favorável para o crescimento das plantas e elevando a eficiência do uso de insumos agrícolas.

O impacto da remineralização também se estende à disponibilidade e qualidade da água (ODS 6). Solos melhor estruturados apresentam maior capacidade de retenção hídrica, reduzindo a necessidade de irrigação e mitigando os efeitos da seca. Além disso, a liberação controlada de nutrientes diminui o risco de lixiviação excessiva, prevenindo a contaminação de corpos d’água por nitratos e outros compostos. Em um mundo onde a crise hídrica se agrava, estratégias como essa são fundamentais para garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos.

No setor industrial, os remineralizadores também desempenham um papel crucial (ODS 9). A utilização de subprodutos da mineração na agricultura transforma passivos ambientais em ativos produtivos, reduzindo desperdícios e incentivando a economia circular. A inovação nesse campo fortalece cadeias produtivas locais, fomenta novas tecnologias para processamento de pós de rocha e amplia o leque de alternativas sustentáveis para o setor agrícola.

Essa lógica se conecta diretamente ao consumo e à produção responsáveis (ODS 12). A dependência global de fertilizantes químicos coloca desafios econômicos e ambientais severos, desde a volatilidade dos preços internacionais até os impactos da sua produção e uso. A remineralização reduz essa vulnerabilidade ao diversificar as fontes de insumos agrícolas, promovendo sistemas mais autônomos e resilientes.

Além dos benefícios na produção de alimentos, a remineralização tem um papel determinante na mitigação das mudanças climáticas (ODS 13). O intemperismo acelerado dos minerais presentes nos pós de rocha captura CO₂ atmosférico, promovendo o sequestro de carbono no solo e reduzindo as emissões líquidas da agricultura. Esse mecanismo reforça a construção de sistemas produtivos de baixo carbono, que são essenciais para atingir as metas climáticas globais.

Os impactos positivos se estendem até os oceanos (ODS 14). A liberação de íons de cálcio e bicarbonato decorrente do intemperismo das rochas contribui para reduzir a acidificação dos oceanos, favorecendo organismos calcificantes, como corais, moluscos e crustáceos. Em um cenário de aquecimento global, onde eventos de branqueamento de corais se tornam mais frequentes, a remineralização oferece um caminho para mitigar um dos efeitos mais devastadores do excesso de CO₂ na atmosfera.

Por fim, a remineralização fortalece a saúde dos ecossistemas terrestres (ODS 15). Os solos são a base da biodiversidade terrestre, e sua degradação compromete processos ecológicos essenciais. O fornecimento equilibrado de nutrientes, a melhoria da estrutura do solo e o estímulo à atividade biológica criam condições ideais para a regeneração dos ecossistemas agrícolas, garantindo um equilíbrio entre produtividade e conservação ambiental.

Apesar de todos os benefícios comprovados, como toda nova rota tecnológica, a adoção em larga escala da remineralização ainda enfrenta obstáculos significativos. No entanto, muito tem sido feito nesse sentido, e os resultados, verificados pela comunidade de pesquisa, têm sido progressivamente discriminados e analisados. Além disso, é crucial que haja um esforço global coordenado, que envolva políticas públicas eficazes, financiamento adequado e um compromisso contínuo da comunidade acadêmica e produtiva para implementar soluções inovadoras e sustentáveis.

A remineralização não é apenas uma promessa futura; é uma estratégia real, cientificamente fundamentada e capaz de transformar a agricultura em um pilar de regeneração ambiental. Integrá-la às políticas públicas, às cadeias produtivas e à pesquisa científica significa romper com um modelo extrativista falido e inaugurar uma nova era para o manejo dos solos. A transição para um sistema agrícola sustentável não é uma opção – é uma necessidade. E os remineralizadores de solo não são apenas parte dessa mudança. Eles são o caminho.

1 Doutoranda em Ciências Ambientais, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará (UFPA), R. Augusto Correa, 01, CEP 66075-110, Belém, Pará.
luanny_cunha@yahoo.com

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