Enir Mendes

Discreto e persistente, o geólogo Enir Mendes dedicou 16 anos de sua vida ao serviço público no Ministério de Minas e Energia (MME), onde se consolidou como um dos principais defensores dos Remineralizadores de Solo (REM) no Brasil. Sua visão pioneira e atuação incansável renderam-lhe uma homenagem no V Congresso Brasileiro de Rochagem, um reconhecimento merecido por sua relevante contribuição.

Durante sua trajetória no MME, Enir desempenhou funções estratégicas, como diretor de Transformação e Tecnologia Mineral e coordenador do Grupo Interinstitucional de Remineralizadores. Sua liderança foi determinante para conquistar o apoio do Governo Federal ao projeto de lei que reconheceu os REM como insumos agrícolas e para integrá-los ao Plano Nacional de Fertilizantes (PNF-2050), como parte da cadeia de insumos emergentes.

Trajetória – A carreira de Enir Mendes no MME teve início em 2009, em meio a uma crise global de fertilizantes, marcada pela alta nos preços e pela escassez de insumos convencionais. Foi nesse contexto que ele identificou a oportunidade de desenvolver alternativas mais sustentáveis para a agricultura. “Participei da fase final do Grupo de Trabalho Interinstitucional sobre fertilizantes, que buscava alternativas aos insumos químicos convencionais. Foi nesse momento que conheci o potencial da rochagem, então pouco difundida, mas promissora”, relembra. A partir dali, Enir passou a liderar iniciativas fundamentais para consolidar os Remineralizadores de Solo como uma categoria estratégica de insumos agrícolas no Brasil.

Um marco desse processo foi o I Congresso Brasileiro de Rochagem, que reuniu especialistas e resultou na criação do GT da Rochagem. A atuação desse grupo, sob sua coordenação de 2016 a 2023, deu origem às normas regulatórias atualmente vigentes, como a Lei nº 12.890/2013 e a Instrução Normativa MAPA nº 05/2016. Para ele, “foi uma grande satisfação coordenar o GT e ver a produção e a comercialização desses insumos crescerem exponencialmente”.

A defesa de Enir Mendes pelos Remineralizadores de Solo está alinhada ao debate sobre agricultura regenerativa e saúde. “Quando se aborda uma premissa fundamental da nossa existência atual, a segurança alimentar, os remineralizadores surgem como uma solução viável e inovadora para o futuro, em um tema estratégico para o país. Além de recuperar solos e repor nutrientes, esses insumos contribuem para a produção de alimentos mais saudáveis e para a segurança alimentar do país”, reforça o geólogo.

Visão de futuro – Apesar dos avanços legais conquistados pelo setor, Enir acredita que ainda há desafios a serem superados, como a logística de distribuição, a resistência de alguns segmentos do agronegócio e a necessidade de ampliar o conhecimento sobre os benefícios desses insumos. Para Enir, a legislação sobre os Remineralizadores de Solo é jovem e necessita de tempo para amadurecer. Contudo, diante das bases já construídas, ações como a simplificação do requerimento de pesquisa mineral, com base na classificação de rochas, minérios e minerais com potencial para remineralização e uso na agricultura, estão no âmbito da ANM e podem ser implementadas.

O futuro dos REM, em sua visão, é promissor, apoiado em fatores já comprovados, como o foco em práticas sustentáveis, a capacidade de regeneração do solo e as recentes pesquisas sobre seu potencial de captura de carbono. No entanto, para continuar crescendo, ele analisa que o setor depende de continuidade e articulação. “Alguns estados já começam a adotar políticas para estimular o uso de remineralizadores como parte de uma agricultura mais equilibrada e sustentável”, destaca.

Para o geólogo, o Brasil vive um bom momento para a expansão dos REM. “É um momento propício para se traçar uma estratégia nacional para os remineralizadores. A base está posta: o Programa de Inovação dos Remineralizadores, elaborado durante o desenvolvimento do PNF 2050, e ainda sequer publicado”, explica Enir. Para as empresas do setor, ele recomenda, que mantenham proximidade com os produtores rurais, fomentem a inovação e estabeleçam parcerias com universidades. Ressalta, ainda, a importância de manter o foco nos benefícios socioambientais locais e regionais, o que ele considera “a marca e o legado dos remineralizadores”.

Embora tenha iniciado uma nova etapa – a aposentadoria –, a energia criativa de Enir Mendes permanece ativa. Atualmente, ele se dedica às artes plásticas, transformando madeira reaproveitada em obras singulares, esculpidas ou estampadas. Seu ateliê, em São Paulo, reflete a mesma essência que guiou sua trajetória: a transformação de materiais brutos em algo valioso. Assim, ele continua inspirando não apenas na geologia, mas também nas artes, demonstrando que sustentabilidade, criatividade e dedicação podem caminhar lado a lado.

Fotos: Arquivo pessoal

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