Com o uso de REM, agricultores de Santa Catarina recuperam terra considerada improdutiva e expandem a produção
Aos 76 anos, Dona Iraci Rodrigues de Lara tem uma longa e desafiadora história com a agricultura. Filha de pais agricultores, e posteriormente assentada pelo INCRA, em Irineópolis (SC), ela transformou — com o apoio do seu companheiro João Lima e de profissionais da assistência técnica — uma terra improdutiva em um modelo de agricultura produtiva, sustentável e diversificada. Acostumada a enfrentar desafios para sobreviver, ela estava decidida a aproveitar a chance de tornar produtivo o pedaço de terra que conquistou na luta pela reforma agrária.
Quando chegou à propriedade, há cerca de vinte anos, encontrou um solo com vários problemas, como compactação, erosão e baixo conteúdo nutricional. A área havia sido explorada por décadas com monocultura de pinus, o que deixou o solo empobrecido, sem vida e sem capacidade produtiva. “Quando viemos para cá, a terra estava morta. Por uns três anos a gente sofreu muito, plantava e morria, a semente germinava e não vingava. Mas eu sempre acreditei que era possível recuperar a terra, porque a gente precisa viver, mas também precisa deixar viver”, relembra.
Após anos de tentativas frustradas com colheitas perdidas e um solo incapaz de reter nutrientes e umidade, D. Iraci participou de um encontro com técnicos da AS-PTA (Agricultura Familiar e Agroecologia). Foi quando conheceu profissionais como o agrônomo Cláudio Bona e o biólogo Fábio Jr. da Silva e teve acesso aos conhecimentos relacionados às práticas agroecológicas. Esse curso mudou sua relação com a terra. Ela aprendeu que o solo precisava ser tratado como um organismo vivo e que, para produzir, era necessário primeiro regenerá-lo e rejuvenescê-lo. “Eles me disseram: só vai produzir se o solo tiver vida. Trouxeram insumos, algumas sementes e mix de cobertura. Foi o começo da transformação”, conta a agricultora.
Foi nessa oportunidade que ela conheceu os Remineralizadores de Solo, que, naquele tempo, eram tratados como pó de rocha. Inicialmente, os especialistas apresentaram o pó de basalto e orientaram acerca de práticas que combinassem a adubação verde, os pós de rocha, a consorciação de culturas e o uso de sementes crioulas. Com orientação e apoio técnico, D. Iraci, Sr. João e sua comunidade passaram a incorporar os REM ao sistema produtivo, iniciando em áreas menores e ampliando gradualmente.
Após algum tempo, o solo que parecia estéril passou a produzir cada vez mais e melhor, e o resultado surpreendeu a agricultora. “A partir dos três anos que estávamos aqui, começamos a usar o pó de rocha conforme as orientações, porque a gente não conhecia e não sabia. Descobrir esse adubo, pertinho da nossa propriedade, facilitou a vida e o sistema de produção. Hoje, passados tantos anos, o nosso terreno é todo produtivo”, comemora D. Iraci, para quem os REM são “o remédio da terra”.


Atualmente, os Remineralizadores de Solo são aliados fundamentais na área de cinco hectares, onde produzem hortaliças, frutas, milho, feijão, mandioca, amendoim e morangos, além de ervas medicinais e muitas flores. Outras culturas, como as da maçã e frutos vermelhos, estão sendo introduzidas no sistema de produção. A lavoura também recebe adubos orgânicos e bioinsumos desenvolvidos pela própria comunidade. Toda a produção da área é orgânica, livre de agrotóxicos e adubos químicos. D. Iraci e Sr. João fazem um trabalho de resgate histórico das sementes de variedade tradicional, como o milho crioulo. O casal se considera um dos guardiões das sementes crioulas, tão necessárias para preservar a segurança alimentar e a biodiversidade dos agroecossistemas.
O uso dos REM também ajuda D. Iraci a superar os desafios da produção de algumas culturas mais exigentes, como os períodos de seca e frio, e a manter a propriedade de forma sustentável. “Todo ano a gente faz um reforço com REM, porque ele fortalece a planta, mantém a umidade do solo e melhora a resistência das culturas às doenças e aos veranicos, que, em alguns períodos, são muito intensos na região”, afirma D. Iraci. “Enquanto outros veem a horta secar no calor porque a terra não tem vida, a nossa aguenta mais. Trabalhamos sem estresse, cuidando da terra, e ela nos devolve alimentos saudáveis e vida digna”, defende.
Outro ponto positivo da adoção dos REM, na opinião de D. Iraci, foi a melhoria na comercialização dos vegetais produzidos. “Barateou bem e dá muito certo essa nova forma de produzir”, explica. “Naturalmente, quanto menos você gasta em insumos e maquinários, melhor o impacto comercial e econômico. Assim, nossos produtos têm um valor maior e isso faz a diferença no final”. Os alimentos produzidos são comercializados em uma cooperativa fundada por ela e outros produtores da região, que está focada na produção de alimentos orgânicos.



Além de permitir a regeneração do solo e o cultivo de diferentes espécies vegetais, essa experiência prática e bem-sucedida tem contribuído diretamente para o fortalecimento das comunidades locais. Casos como o da D. Iraci fortalecem o uso dos Remineralizadores de Solo em meio à agricultura familiar e podem influenciar diretamente na implementação de políticas públicas voltadas à agricultura familiar, à agroecologia e, por extensão, à mineração de pequeno e médio porte. D. Iraci relata que, recentemente, recebeu formulários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), com linhas específicas para mulheres, jovens e práticas agroecológicas. “Antes não tinha isso”, conta ela, e completa: “Agora tem porque estamos mostrando que é possível produzir diferente do agronegócio, com sustentabilidade, rendimentos e cuidados com a terra”.
Com toda a experiência adquirida, o relato dessa valorosa mulher agricultora carrega uma visão de futuro que ultrapassa os limites da sua propriedade. Para ela, cada safra é um compromisso com as próximas gerações. “Eu quero contribuir com aquilo que eu puder fazer, que seja de grandeza para as próximas gerações. Não precisamos de muito para viver, precisamos viver bem e com respeito à natureza”, conclui.
A experiência de D. Iraci prova que estamos construindo um novo futuro possível, em que a oferta de insumos locais, como os Remineralizadores de Solo, associados a práticas agroecológicas, faz brotar não só as sementes, mas a esperança de um mundo melhor.


Fotos: Acervo Iraci Lara